Dentre os céticos há quem pense que o cristão é apenas mais um dentre muitos indivíduos religiosos que tem a pretensão de ser dono da verdade.

Seria justa tal acusação? Analisemos.

As religiões, em sua maioria, apresentam como regra, forte característica esotérica. Os seus adeptos se fundamentam, em grande parte, na experiência pessoal para formar sua base doutrinária, ou seja, seu pressuposto de verdade.

As religiões monoteístas e que admitem uma relação com um Deus pessoal (islamismo, judaísmo, cristianismo) são exceção a essa regra das religiões. Dentre essas três, a relação do cristão com seu Deus apresenta algumas diferenças profundas e primordiais. Apesar de todas assumirem a existência de um Deus único, soberano, criador de tudo e que mantém uma relação pessoal com os homens, a visão do cristão vai além.

O cristianismo é a única relação que admite um Deus que ama seus filhos, um Deus que transfere para eles sua mente e seu caráter, um Deus que desceu de sua glória e ensinou pessoalmente toda a verdade, um Deus que cumpriu um plano de salvação para os seus eleitos.

A superioridade do cristianismo sobre as religiões monoteístas é nítida, pelo menos pela seguinte razão: o cristianismo tem a mesma base delas (a torá e o velho testamento), porém representa a continuidade até ao alcance da plenitude de Deus, enquanto as demais ficaram presas no passado, nas sombras das coisas futuras, na religião (enquanto sistema humano de compensação existencial). O tronco da interpretação dada por Cristo ao Velho Testamento traz no seu cerne o amor – amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo-. Esse conceito, no cristianismo, figura como o principal diferenciador. Não se trata apenas da dupla face do amor,  a principal inovação em Jesus Cristo, foi a revelação da paternidade de Deus por seus filhos.

O cristianismo, assim, não se traduz por uma religião, mas por uma relação de amor: primeiro o amor gratuito do Pai pelos filhos, como expressão de graça; depois, o amor dos filhos pelo Pai, como uma consequência da essência recebida; e, finalmente, o amor dos filhos para com os irmãos, como um efeito e resposta do amor de Deus.

Vista a diferença entre cristianismo e as duas grandes religiões monoteístas, e destacada sua supremacia, tomemo-lo como referência para analisarmos a relação com as religiões esotéricas. Resta responder por que os cristãos, embora se declarando conhecedores da verdade, não podem ser acusados de defensores de sua própria verdade.

Nas religiões esotéricas existe uma verdade geral, mas ela pode ser adequada ou até mesmo modificada por cada indivíduo, a partir de suas experiências pessoais com a religião. Já no cristianismo bíblico isso não se aplica.

O cristianismo bíblico é uma construção da revelação de Deus na histórica da humanidade, uma revelação pública. Uma revelação fundamentada em aletheia, a verdade dos fatos. Para o cristão, o que vale para um indivíduo deve valer para todos e as experiências pessoais devem ser julgadas pelas referências da revelação de Deus na história.

Assim, no cristianismo a verdade não pertence ao cristão, o cristão é que deve pertencer à verdade. Não há nessa relação esforço para encaixar a religião na experiência, pois a própria experiência deve ser submissa à revelação, sob pena de estar distorcida pela percepção.

O cristão não constrói uma verdade, submete-se à verdade. O cristianismo não é uma religião em que seus adeptos procuram fazer valer sua vontade, sua experiência ou sua verdade. É uma relação em que o convertido deve negar-se a si mesmo, confrontar e até mesmo contestar a experiência, criticar sua percepção da realidade para aceitar a verdade revelada,  logo, não se trata de defesa da própria verdade, mas de submissão e confiança na verdade de Deus.

Não é uma tarefa fácil, pois a razão algumas vezes parece ser contrária à revelação. Contudo, isso não significa que o cristianismo seja irracional, pelo contrário. O cristianismo critica a razão, a consciência e a percepção a fim de libertá-las das densas trevas do engano e gerar a fé. A razão, uma vez liberta, poderá compreender perfeitamente a largura e o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que a alma possa encher-se de toda a plenitude de Deus.

Pastor Wilson Santos / Tocantins-Brasil.